Em
um artigo sobre o “fascismo”, publicado no “Le
Figaro” de 6 de outubro de 1974, o escritor Thierry Maulnier se ocupa do
estranho destino deste vocábulo. A que se deve o fato de que o fascismo tenha
transbordado as fronteiras do país em que nasceu e seu sentido inicial para ser
aplicado a regimes tão distintos? Na guerra dos vocábulos o fascismo deixou há muito para trás seu colega, o nacional-socialismo, apesar de o último haver
representado para as democracias e para o comunismo um perigo muito maior que
aquele. Na batalha da terminologia se impôs o “fascismo”, convertendo-se na denominação
capital de acusação empregada pelos comunistas contra seus adversários, sem
distinção alguma de origem ou de conceito. Maulnier apresenta o problema, mas
não o resolve satisfatoriamente. Crê que devido à comodidade propagandística
generalizou-se o fascismo porque esta fórmula fez sua aparição antes que o
nazismo, o que não nos parece exato; não foi sobre uma base cronológica, sobre uma
prioridade no tempo, que se impôs o fascismo na propaganda do inimigo, senão devido
a outras razões de maior importância. Não sem fundamento os comunistas descarregaram
toda sua fúria contra o fascismo e continuam atualmente sua perseguição como se
tivessem medo também de sua evocação nostálgica. Não é por comodidade
propagandística, mas por uma causa objetiva, que o “fascismo” domina o vocabulário
comunista quando atacam a seus oponentes.
Toda
a estratégia comunista de conquista mundial se baseia sobre a ideia da luta de
classes. Para conquistar o mundo antes deve se conquistar aos povos que
integram a Humanidade. A luta de classes
serve como uma espécie de alavanca para arremessar ao céu as nações. A questão
operária – dizem os comunistas – não pode ser resolvida dentro da nação. É um
assunto universal. Na luta para a realização da justiça social estão
comprometidas todas as massas proletárias de todas as nações, muito além das
fronteiras existentes. O proletariado não tem pátria. A condição prévia para a
vitória do proletariado contra as classes exploradoras é a destruição destas
entidades sociais fechadas, que são as nações, e que impedem a marcha da
história rumo a outra fase, onde não existirá mais que uma sociedade sem
classes, dirigida por uma organização mundial.
Pois
bem: quando os comunistas falavam acerca de seu triunfo, ao fim da primeira
guerra mundial, quando no cenário político não haviam mais que liberais e comunistas,
e quando a crise do sistema liberal conduzia irremissivelmente à comunistização
do mundo, naquele momento de encruzilhada, quando a Europa parecia cair em suas
mãos como fruto já maduro, aparece Mussolini, com a terceira alternativa
política, que foi o fascismo. Que dizia Mussolini? Uma coisa muito simples, em
aparência. Não é necessário dinamitar as nações para se conseguir a justiça
para o trabalhador. A justiça social se pode lograr em excelentes condições,
permanecendo intacta a nação. Sem nenhuma Internacional, senão exclusivamente
através da utilização perspicaz dos bens nacionais podemos satisfazer a fome de
justiça das classes trabalhadoras. Estas coisas foram também enunciadas por
outros pensadores antes de Mussolini. Porém foi mérito de Mussolini ter sido o
primeiro a realizar a demonstração prático-política desta teoria, onde o
nacional pode conciliar-se perfeitamente com o social. Ele criou um Estado onde
a fórmula para se resolver os conflitos sociais a nível nacional e sob a
autoridade do Estado revelou-se viável.
Horia Sima, sucessor de Codreanu na liderança do Movimento Legionário |
A
Europa, desde o ano 1918, vivia em plena anarquia e parecia destinada a ser
tragada pelo vendaval das agitações comunistas. Haviam distúrbios e revoluções
por todo lado. De repente o sol se ilumina e, como um raio, estala o fenômeno
fascista. Um novo exército político faz sua aparição. Entrando em competição
com o comunismo, Mussolini deu o exemplo; foi o precursor desta crucial experiência
histórica. Nem liberalismo nem comunismo, mas uma economia em que as
contradições podiam ser aplainadas segundo o interesse de todos. Mussolini
demonstrou que a questão operária pode ser resolvida por meios nacionais, sem
necessidade de alienar a soberania nacional e sem cair na órbita do
imperialismo comunista. Seguindo o modelo mussoliniano, outros Estados
resolveram também suas dificuldades sociais, e até hoje a experiência é válida.
Mussolini fez esta formidável demonstração política que atrasou o processo de
comunistização da Europa por mais de dois decênios. As turvas águas do ano de
1918 se retiraram a seus leitos, e os bolcheviques tiveram que contentar-se em
dirigir a Rússia, deixando para outra ocasião a empresa de lançar-se contra a
Europa.
Este
conceito já não é fascismo, mas uma experiência política muito mais importante
que o fascismo; é uma nova era que se abriu para a Humanidade atormentada e
sofrida pela calamidade social; A solução mussoliniana segue mantendo sua
validez para todos os povos que querem conservar sua independência nacional, e
muitos Estados a aplicam sem recordá-la, pelo medo de cair vítima da campanha
de difamação que se levanta contra os “fascistas”.
O
fascismo desapareceu como movimento e como estado, porém a fórmula mussoliniana
de harmonizar os interesses sociais sob a égide do Estado continua colhendo
êxitos. A maneira de aplicação desta fórmula é questão interna de cada Estado,
porém sua essência não se modificou. Quem quer salvaguardar a independência
nacional dos tentáculos do bolchevismo não pode refugiar-se no liberalismo,
posto que esta política significa o comprometimento inevitável da nação ao
caminho da ditadura comunista. Somente o Estado nacional, com a tutela
fraternal de todas as suas classes, de todas as profissões e de todos os
interesses, pode integrar a massa trabalhadora no Estado, evitando assim que
caia nas mãos dos sem pátria e sem Deus.
O
fascismo, como projeção no Estado, é coisa totalmente diversa. No fascismo se
incorporam uma multitude de elementos,
de fatores, dos quais alguns não nos agradam. O fascismo é um fenômeno especificamente
italiano, com seu perfil característico e inimitável. Porém esta genial visão
do problema social por parte de Mussolini representa um conceito infinitamente
mais importante que sua criação política. Foi ele quem primeiro demonstrou que
se pode sair do beco sem saída social, resíduo dos Governos liberais, sem recorrer
à solução comunista e sem entregar o país ao bolchevismo. Este terceiro
caminho, que não é fascismo, que é algo que supera o fascismo, permanece aberto
a todos os povos que desejam salvar sua independência nacional. A justiça
social, grita Mussolini de seu jazigo, é compatível com a nação e não é preciso
recorrer à solução sem retorno do marxismo, onde não vamos encontrar mais que a
escravidão e a morte.
Agora
se pode compreender melhor este ódio mortal dos comunistas contra o fascismo.
Não porque existira um perigo fascista, não porque há risco do fascismo
ressuscitar no mundo, mas para que os povos não tomem o caminho indicado por
Mussolini, o caminho da cooperação social, da síntese do trabalho sob a
autoridade do Estado, para fortalecer-se e defender-se de experiências
desastrosas.
SIMA, Horia. Qué es el Nacionalismo? Fuerza Nueva, Madrid. (1980).
Nenhum comentário:
Postar um comentário